A coincidência entre o slogan adotado pela Prefeitura do Rio — “Fazendo a coisa certa” — e o slogan proposto pela agência Cálix na concorrência pela mesma conta — “Fazendo a coisa certa, dá certo” — chegou à disputa jurídica. Em seu recurso à Comissão de Licitação, a agência Artplan apontou que a proposta da Cálix (que até agora está em primeiro na pontuação técnica) não teria sido original, por se utilizar do mesmo tema adotado por Crivella.
Acusada, a Cálix rebateu repassando a suspeita para as atuais agências da Prefeitura, Binder e Propeg, em sua contrarrazão entregue à Comissão de Licitação:
A verdade dos fatos é que o Município do Rio de Janeiro, atualmente assessorado pela agência Propeg Comunicação e/ou a agência Binder, atuais prestadoras dos serviços de publicidade, reproduziram posteriormente parte do conceito que conheceram no dia 17 de janeiro de 2019, executando-o meses depois em campanha do Município do Rio de Janeiro. |
E completou:
… basta se perceber que não há qualquer registro de utilização do conceito “Fazendo a coisa certa, dá certo” pelo Município do Rio de Janeiro em momento anterior à entrega das propostas pelos licitantes, razão pela qual não paira dúvidas sobre a sua originalidade |
Indo além, a Cálix não só acusa as duas outras agências de plágio como informa na contrarrazão que “adotará as eventuais medidas jurídicas cabíveis para preservar os seus direitos patrimoniais e morais sobre tal campanha”.
As agências envolvidas preferiram não se manifestar à Janela, já que estão formalmente representadas nos recursos e contrarrazões que apresentaram à Prefeitura.
Mas, para deixar o caso ainda mais curioso, a Janela apurou, por diferentes fontes, que o slogan “Fazendo a coisa certa” já vinha sendo sugerido pelo próprio subsecretário de Comunicação de Crivella, Daniel Pereira, em brainstormings com as agências Binder e Propeg, antes mesmo da entrega das documentações da concorrência, em janeiro deste ano.
Diretamente envolvido, Pereira também preferiu não se pronunciar neste momento para a Janela, pelo mesmo motivo de a questão estar sendo julgada pela Comissão de Licitação.
Para não se chegar à teoria conspiratória de quem alguém da equipe de Daniel Pereira na Prefeitura poderia ter vazado o tema para a Cálix, a Janela não deixa de lembrar que também pode fazer sentido acreditar na possibilidade de uma coincidência, situação comum no mercado publicitário, ainda mais quando 14 diferentes ideias foram apresentadas pelas licitantes para solucionar um mesmo problema.
Nessa linha, aliás, o próprio diretor da Binder, Glaucio Binder, também presidente da Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro), em conversa anterior com a Janela, já havia defendido a tese de que, em concorrências públicas, como o objetivo é avaliar especulativamente a capacidade criativa das agências, os anunciantes deveriam evitar, em seus briefings, temas que eventualmente poderão ser utilizados pela comunicação do órgão no futuro. “Corre-se o risco de perder uma ótima ideia só porque a agência autora não venceu a licitação por qualquer outro motivo”, explicou.